O que me recordo do dia 25 de Abril de 1974 não é muito.
Tinha perto de três anos, e lembro-me de ter passado o dia na janela da casa da minha avó na Rua Miguel Pais, enquanto observava muita gente feliz a passar na rua dando vivas ao que estava a acontecer e sempre com um grande sorriso nos lábios.
Passados uns dias recordo me de ter ido fazer umas pinturas no muro das Oficinas da CP no Barreiro, e, de ter feito um grande Borrão Vermelho nesse mesmo muro, uma jovem perguntou me o que tinha desenhado e eu respondi-lhe : – Um barco ! Tenho bem presente essa memória, e de serem dezenas, talvez centenas de crianças que em liberdade pintámos um grande mural coletivo ali na Avenida da República.
Com o passar dos anos fui sempre passando junto ao muro da CP, e sempre ia identificando o meu “barco” naquela obra, mas também ao mesmo tempo essas pinturas de esperança foram desaparecendo enquanto as portas que Abril abriu também foram sendo fechadas.
Recordo me também de passar no Terreiro do Paço e ver o Edifício da Bolsa de Valores sempre fechado, enquanto me explicavam que esse espaço já não funcionava e que era coisa do passado fascista. E assim lá fui passando ao longo do tempo, olhando sempre para aquele edifício que eu considerava bonito, mas que já não servia e não existia. Infelizmente, anos passados verifiquei que esse “passado” da bolsa tinha regressado e hoje na situação que vivemos verificamos que é uma grande causa do sofrimento que vivemos.
Os anos foram passando e Abril foi se desvanecendo, comemoramos sempre essa data com fervor, alegria e esperança pois de facto trouxe muitas conquistas e liberdade ao nosso Povo, mas a Sociedade está cada vez mais afastada dos seus ideais.
Hoje vivemos uma situação em que é urgente uma rutura, uma mudança, vivemos num tempo em que cada vez mais urge a construção de um Abril Novo que devolva a esperança, a alegria e a força de viver ao povo português.
Nuno Miguel Ferreira