A cumprir o serviço militar obrigatório (SMO), na 1ª Companhia de Instrução (CI) do Batalhão de Sapadores de Caminhos-de-ferro, no Entroncamento, como 1º. Cabo Miliciano da arma de engenharia e com a especialidade de mecânico de engenharia e material ferroviário.
Dos 29 meses de vida militar, 20 deles foram cumpridos no BSCF, no Entroncamento.
Assentei praça no Regimento de Infantaria nº. 7(RI7), em Leiria, onde durante um mês tive a prestar provas, transitei para o Regimento de Infantaria Nº.5 (RI5), no Curso de Sargentos Milicianos (CSM), onde terminei a recruta. Frequentei a especialidade de mecânico de engenharia e material ferroviário na Escola Prática de Serviço de Material (SPSM) em Sacavém.
Quando terminei a especialidade, e me apresentei no Batalhão de Sapadores de Caminhos-de-ferro, em Campo de Ourique (Sede do Batalhão), levei logo a guia de marcha para o Quartel-general (QG), no Porto, e mais tarde transitei, como adido, para o Regimento de Cavalaria Nº.6 (RG6), para frequentar o estágio de locomotivas a vapor de via estreita na linha da Póvoa e nas Oficinas da Boavista.
Este estágio tinha em vista a mobilização para os Caminhos de Ferro de Benguela, mas felizmente não fui mobilizado, já a mesma sorte não tiveram os recrutas (fogueiros), aos quais dei formação, que acabaram por ser mobilizados para essa linha de África.
Voltando ao 25 de Abril de 1974, mais propriamente ao 24 de Abril, como sempre na CI/BSCF, o render da parada era às 10 horas, entrei de serviço como Sargento de Dia, Piquete e da Guarda, por falta de efectivos acumulávamos às três funções. Lembro-me perfeitamente, por volta das 16 horas, o Comandante, que era Capitão de engenharia, dizer-me “Tavares, vou estar presente no recolher às 22 horas”, fiquei admirado, uma vez que não era normal o Comandante estar presente a essa hora no Quartel porque morava em Vila Nova da Barquinha, mas apenas o Oficial de dia.
Chegou a hora, e o Comandante lá estava, depois da formalidade transmitiu a seguinte mensagem “É necessário alguma atenção durante a noite, porque o Quartel pode entrar de prevenção rigorosa”, e foi à vida dele.
Cerca das 4 horas, do dia 25 de Abril, estava a descansar quando o Oficial de Dia bateu à porta do quarto da casa da guarda e disse “Tavares, está haver problemas lá para Lisboa”, ao qual respondi “Meu Alferes, até chegar ao Entroncamento ainda falta muito”, era a mensagem do Quartel-general da Região Militar de Tomar para o Quartel entrar de Prevenção.
Entretanto, foi seguindo com atenção o desenrolar dos acontecimentos num pequeno rádio a pilhas.
A única diferença no normal funcionamento, é que o portão da Porta de Armas estava fechado e ninguém podia ausentar-se do Quartel.
Comecei a refletir na mensagem do Comandante, e era um sinal de que pertencia ao Movimento dos Capitães de Abril!
Pode dizer-se que a CI/BSCF no Entroncamento era um Quartel misto: tinha uma zona militar e outra de agro-pecuária. O seu efectivo era de cerca de 70 a 80 militares, e a maioria do pessoal do SMO era oriundos da CP. Os Oficiais eram normalmente engenheiros, e os Sargentos e Praças pertenciam aos Grupos Oficinais de Barreiro, Entroncamento e Porto-Campanhã.
As principais especialidades eram: Assentadores de Via, Mecânicos de Material Ferroviário e Fogueiros.
Para além dos acesos rodoviários, tinha uma linha férrea a ligar ao parque de agulhas da estação de Entroncamento, onde, por vezes, circulava uma dresine pertença do Batalhão.
Para finalizar, no dia 25 de Abril de 1974, o sentido dos Camaradas de Armas era de esperança num futuro melhor e, principalmente, de que já não existia o perigo de ser mobilizados para as ex-províncias ultramarinas para combater os nossos irmãos, numa guerra sem nexo e desprovido de qualquer sentido que infelizmente matou e mutilou muita juventude.
Felizmente, o 25 de Abril de 1974, mais que não fosse, serviu para que as novas gerações não viessem a sofrer o que as anteriores, e minha, sofreram com a perda de familiares e amigos.
Frederico Tavares