“NO BARREIRO SURGE O PRIMEIRO CENTRO DE TRABALHO DO NOSSO PARTIDO”

27 de abril de 1974

“Derrubado que foi o fascismo, de imediato surge no Barreiro a primeira sede do grande Partido da resistência antifascista, do Partido da classe operária e das massas trabalhadoras, 0 Partido Comunista Português. Seguir se iam dezenas, e depois muitas centenas de outras.

 E urgente abrir-se uma sede do Partido! Talvez surjam alguma dificuldade, nos temos de o conseguir.

 Estava-se a 27 de Abril de 1974.

Algures no Barreiro, vila operária orgulhosa das suas tradições de luta contra o fascismo, um funcionário ainda clandestino do PCP contactava um militante legal.

Deviam ser os camaradas mais antigos, bem conhecidos ca na terra e bem conceituados, a tratar do problema da casa. Se fosse preciso assinar qualquer contrato fa-lo-iam em conjunto — recorda uma jovem camarada. Logo outro acrescenta, bem vivos na memoria esses dias de Abril: a casa que surgiu na altura mais a jeito foi a do Albino Macedo. Falou-se com ele, se estaria disposto a aluga-la para a sede de um movimento politico que estava proibido; disse-nos que sim, que conhecia bem as pessoas que assumiam a responsabilidade e tinha confiança nelas. A única condição é que teria de ser uma coisa provisoria pois a casa era para demolir. Concordamos, mas ainda acrescentamos de mansinho – «olhe la, e suponha que era para uma sede do Partido Comunista?» O homem não se assustou. Conhecia as pessoas, mereciam-lhe respeito e confiança, estava descansado – «fizessem da casa o uso que entendessem».

Com a voz coada de comoção e orgulho o camarada que falava à reportagem do «Avante!» sublinhou: mais ou menos a hora que o camarada Álvaro Cunhal desembarcava no aeroporto de Lisboa estávamos nós a abrir a porta de modo a que quando ele chegasse tivesse uma casa do Partido já aberta. Conseguimos, mais ou menos, e a noite já se podia ver um letreiro à porta dizendo “Viva a Classe Operária».

As palavras de cada um abriam caminho as lembranças dos outros, e os quinze camaradas que se haviam reunido para contar como surgira a primeira sede do PCP após o 25 de Abril interrompiam-se mutuamente, completavam frases que mal tinham ainda sido formuladas: …A nossa bandeira – a bandeira do Partido – não foi hasteada nesse dia… Pois não, atalha outro, ficou dentro de casa mas podia ver-se da janela. Tínhamos pintado as letras a lápis de cera no pano vermelho… E outra voz — hasteamos pela primeira vez a bandeira no dia 1. ° de Maio… Até tiramos uma fotografia.

Uns na flor da vida, outros já curvados ao peso dos anos, de origens muito diversas, têm em comum o que cada um dedicou e dedica da sua vida ao serviço do Partido, a causa do proletariado.

Já na casa dos setenta, a tia Maria, conhecida desde miúda por Pintainha, é militante do Partido desde os vinte anos. Conheceu a prisão, comeu material clandestino — na minha casa nunca eles apanharam nada! escondia os Avantes em buracos feitos nas pernas dos bancos. continua tao confiante e viva como nos seus tempos de rapariga não hei-de morrer sem ver isto (a sociedade justa por que sempre lutou) mais firme!

Também já bem entrados nos anos, a tia Augusta mais o tio Domingos, companheiros de vida e de combate, grandes na sua humildade, fiéis ao Partido com quem sempre compartilharam a pobreza. Na nossa casa só havia uma cama – conta a tia Augusta – as quantos camaradas la dormiam… Se era uma amiga, ficava eu no meio e o meu Domingos para a parede; se era um amigo, ficava eu para a parede… Pobres, sim, mas para o Partido chegava sempre alguma coisa.

Hoje, talvez um pouco atordoados com o ritmo do processo, vítimas talvez da incompreensão dos mais jovens, o tio Domingos mais a sua Augusta continuam a vender com orgulho o jornal dos trabalhadores — o meu Domingos as quintas-feiras não descansa enquanto não vai buscar os «Aventes»!

Jovens, uns, já vergados ao peso dos anos, outros, têm em comum o muito que da sua vida dedicaram e dedicam ao Partido. E com orgulho que falam da inauguração, no Barreiro, da 1.” sede do PCP aberta apos o 25 de Abril, a bailar-lhes nos olhos um sorriso de confiança que sem palavras nos diz — Valeu a pena!

A história de cada militante comunista, jovem ou não, é afinal um fragmento da história do Partido. Que importam os nomes? O que conta é a alegria do dever cumprido, a certeza de que a causa por que se luta é justa, a firme disposição de continuar sempre a fazer mais e melhor.”

Texto publicado na Edição do Suplemento do 45ª Aniversario do Jornal «Avante» Nª106 em 1975.

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