“Da guerra nunca se volta – Os caminhos cruzados da guerra colonial”

Biblioteca Municipal de Alcântara – 16-3-24

A vida dos grandes compositores e intérpretes apoiados por mui nobres mecenas ao longo de séculos, está cheia de momentos gloriosos e naturalmente de outros menos encomiásticos! Durante alguns anos a Antena 2 transmitiu regularmente um programa, “Questões de Moral”, em que o apresentador, Joel Costa (JC), falava desses comportamentos menos felizes, acompanhando com músicas célebres dos ditos cujos.

    Por vezes a conversa radiofónica derivava para outros temas e um dia o assunto foi parar às “Guerras em África”. JC foi contando que na Faculdade uns amigos supostamente comunistas, lhe falaram da importância de ir à guerra colonial, sangrenta e fratricida, para ajudar a pôr-lhe fim! A matutar no assunto, em vésperas da incorporação militar, decidiu ir para a tropa e para a guerra, concluindo ter sido a mais imperiosa e significativa opção da sua vida.

    Decisão dolorosa, mas durante mais de dois anos a vivência dura permitiu-lhe abrir os olhos para a realidade colonial, para a miséria dos povos indígenas, a violência inaudita da guerra, para a mesquinhês conspícua do militarismo, para a alienação monstruosa das “tropas especiais”, para os crimes ignomiosos da polícia política, para o pecado mortal, sem perdão, do regime fascista que teimou em prolongar o sacrifício do povo português e a desdita dos povos africanos durante longos treze anos.

    Quem conheceu a guerra colonial, e foram mais de um milhão de jovens portugueses, quem a viveu a ferro e fogo no corpo ou com a alma dilacerada, ficou marcado para sempre e por isso “Da Guerra Nunca se Volta”.

   Aprenderam (quase…) todos os que lá foram que o poderio militar, os preconceitos da supremacia rácica, ou as doutrinas da “superior civilização ocidental”, não derrotam um povo (miserável, atrasado, infiel…) que resolve tomar o seu destino nas próprias mãos.

   Foi assim ao longo de séculos de opressão colonial pelas potências europeias nas Américas e em África, com um longo cortejo de milhões de seres humanos sacrificados. Será assim agora e no futuro, lá onde se luta heroicamente pela liberdade e pelo direito à pátria independente – honra ao povo palestiniano sacrificado no altar dos interesses imperialistas.

    Na sessão de apresentação na Biblioteca Municipal de Alcântara, em 16/3/24, que nos recebe fraternalmente uma vez mais, vamos recordar que nos anos 70 foram muitos os jovens católicos progressistas, comunistas, socialistas e outros democratas que foram cumprir o Serviço Militar Obrigatório (SMO) manifestando-se (e agindo!) contra a guerra colonial e o regime que a alimentava, engrossando a torrente democrática e revolucionária que desembocou no 25 de Abril. 

   Seguindo outro pensamento/opção, mas com a mesma filosofia anti-guerra, muitos outros jovens em idade do SMO decidiram não ir à tropa (refractários)   enquanto outra parte menor, decidiu abandonar o Serviço Militar nos vários teatros castrenses tornando-se desertores.

   Para todos o CEMGFA, no discurso na Televisão e nas Rádios, enunciava/ameaçava, no fim do ano de 1971: “ […] Estão a fazer a subversão no interior das Forças Armadas, seguindo a orientação anti-patriótica de organizações a soldo do estrangeiro”.

   Eramos portugueses daqui! A História tarda no reconhecimento da contribuição que os milicianos deram para se trilhar os caminhos da Revolução Democrática que militares do quadro (os capitães de Abril!) puseram em marcha com o Levantamento Militar em 25 de Abril de 1974.

  Honra eterna aos militares patriotas!

  Honra devida (esquecida! …) aos milicianos que lutaram e sofreram por Abril!

  Viva o 25 de Abril!

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