Rogério Ribeiro, “um grande artista em várias disciplinas do pensamento e da acção criadora, nos últimos tempos senhor de uma obra fascinante, de pureza, de denúncia, de testemunho e espírito humanista“, que deixou sua marca nas coletividades do Barreiro, SFAL e Penicheiros com suas belas obras de pintura mural. As suas criações coloridas e expressivas enriquecem estes espaços, proporcionando uma experiência visual única para todos os visitantes.
Biografia de Rogeiro Ribeiro
Fez a sua formação académica em pintura, na ESBAL – Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.
Desenvolveu intensa actividade como gravador na Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, da qual foi sócio-fundador em 1956.
Em 1961 iniciou a sua actividade como professor de Pintura e Tecnologia na Escola de Artes Decorativas António Arroio (Lisboa). São de 1964 os primeiros trabalhos no âmbito do Design de Equipamento e Gráfico e a colaboração com vários arquitectos nos estudos de cor e integração de materiais e trabalhos artísticos.
A partir de 1970 foi professor da ESBAL, onde em 1974, coordenou o grupo de trabalho de reestruturação do currículo escolar na área do Design.
Expôs colectivamente desde 1950 e individualmente desde 1954. Está representado em diversas colecções particulares, instituições privadas e museus, tanto em Portugal como no estrangeiro.
Trabalhou em cerâmica e em tapeçaria por encomenda de particulares, empresas e organismos oficiais.
Autor de cartões de tapeçaria, começou a colaborar com a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre em 1961.
Desenvolveu intenso labor no âmbito da azulejaria, sendo de destacar as obras:
A estação de metro da Avenida – Lisboa (1959); O átrio Norte da estação de metro dos Anjos – Lisboa (1982); O painel “Azulejos para Santiago” para a Estação Santa Lucía do Metro de Santiago do Chile (1996); O painel “Mestre Andarilho” para o Fórum Romeu Correia – Almada (1997); Um painel para a estação de caminhos-de-ferro de Sete Rios – Lisboa (1999); Um painel para o Arquivo Histórico Municipal de Usuqui – Japão (1999); O painel “O Lugar da Água”, no Espaço Museológico da Rua do Sembrano, em Beja; O “Monumento à Mulher Alentejana”, inaugurado em 8 de Março de 2008, no Parque da Cidade, em Beja.
No sector da ilustração de livros, destacamos os títulos: Minas de S. Francisco, de Fernando Namora (1955); Casa da Malta, de Fernando Namora (1956); A vida mágica da sementinha: uma breve história do trigo, de Alves Redol (1956); Histórias do Zaire, de Alexandre Cabral (1956); Praça da Canção, de Manuel Alegre (1998); Até Amanhã Camaradas, de Manuel Tiago (2000); A Flor da Utopia, de Urbano Tavares Rodrigues (2003);
A nível de projectos foi co-autor do projecto da Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz, com Armando Alves, Joaquim Vermelho, José Aurélio e outros (1983); São da sua autoria ainda: O projecto e montagem da Casa Museu Manuel Ribeiro de Pavia, em Pavia (1985); O projecto museológico da Fortaleza de Peniche (1987).
Dirigiu, desde 1988, a Galeria Municipal de Arte de Almada e, a partir de 1993 foi Director da Casa da Cerca — Centro de Arte Contemporânea, em Almada.
Na morte de Rogério Ribeiro, o elogio fúnebre do seu partido, o PCP, refere (1):
“Rogério Ribeiro é uma das figuras maiores da arte portuguesa. Excepcional e multifacetada personalidade criadora, ao legado da sua imensa obra plástica junta-se o do seu incansável trabalho de construtor e dinamizador cultural, o do pedagogo entusiasta, o do combatente político pelas causas da emancipação humana, o do resistente e dirigente comunista. Sendo certamente uma das mais destacadas e originais personalidades criadoras enraizadas no movimento neo-realista, a sua obra é uma riquíssima e complexa construção e reflexão sobre o devir humano, sobre o seu tempo e sobre uma humanidade em certos aspectos intemporal. Nas nossas memórias visuais ficarão para sempre gravadas as suas ilustrações para o livro «Até amanhã camaradas» de Manuel Tiago.”.
Acerca da morte de Rogério Ribeiro disse o professor universitário, crítico literário e artista plástico Rocha de Sousa (3):
“E assim o país se apaga um pouco mais, por cada morte aqui anunciada, por cada perda de personalidades cuja vida e obra constituem valores inestimáveis da nossa identidade. Rogério Ribeiro foi (e será sempre porque nem todo o país amolece de esquecimentos) um grande artista em várias disciplinas do pensamento e da acção criadora, nos últimos tempos senhor de uma obra fascinante, de pureza, de denúncia, de testemunho e espírito humanista. As frentes da actual cultura portuguesa têm dividido a presença na nossa memória de gente desta estirpe, a montante do fio incendiário dos anos oitenta. Contra isso temos lutado, porque não basta lembrar Sousa Cardozo, por exemplo, passando por Paula Rego ou Júlio Pomar, e enfatizando, por fim, tudo o que acabou de aparecer, como se o mundo não tivesse outras verdades e uma remota genética universalizante. Pois aqui se deseja afirmar que o Portugal moderno, para se reconhecer e progredir, tem de homenagear pessoas como Rogério Ribeiro, que nos ajudaram a vencer o tempo e os bloqueios da mediocridade. Aqui fica apenas uma pintura, uma peça que exprime bem o despojamento e a riqueza do homem na trajectória que tem de inventar contra a irremediável e absurda escassez de si mesmo.”
A sua participação na luta política foi salientada pelo PCP:
“Destacado participante nas lutas do MUD Juvenil e nas lutas estudantis de 1962, Rogério Ribeiro estabeleceu contactos com o PCP desde 1953, tendo a ele aderido em 1975. Preso pela PIDE em 1958 vê-lhe negada a autorização para exercer o cargo de assistente da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Rogério Ribeiro que foi membro do Comité Central do PCP desde 1983 até Dezembro de 1992, deu durante três décadas uma elevada contribuição para a concepção e realização da Festa do Avante, da qual foi membro da sua comissão organizadora e para muitas outras realizações do Partido, das quais se destaca a exposição comemorativa dos 60 anos de vida do PCP.”.
Biografia In : Do Tempo da Outra Senhora