No dia 8 de Maio de 1945, quando se soube da rendição da Alemanha, muitas centenas de barreirenses responderam à chamada e juntaram-se frente à Câmara Municipal, onde foram feitas algumas intervenções.
Depois desfilaram até ao portão da fábrica de cortiça Braamcamp, propriedade de ingleses, gritando vivas à vitória dos aliados, ao fim da guerra e à democracia esperada.
A GNR ocupante da vila, observa à distância sem intervir. No meio da multidão aparecem bandeiras inglesas, americanas, muitas bandeiras negras e muitos paus nus, com significados que não escapam aos observadores: a fome negra mantinha-se com o “racionamento” desde os tempos da Guerra de Espanha; nos paus nus faltavam as bandeiras vermelhas com a foice e o martelo, que a organização desaconselhou! .
Alguns discursos espalham a ilusão de que as democracias ocidentais vão alterar o poder em Portugal!… Ouvem-se apupos, alguém perde a paciência e grita: “Abaixo o fascismo!”, “Abaixo Salazar! ”.
No dia seguinte continuaram as manifestações de alegria pelo fim do terrível conflito, que ficou conhecido pela II Guerra Mundial (1939/45). Embora Portugal não estivesse directamente envolvido, os portugueses foram duramente atingidos pelas medidas de racionamento dos géneros alimentares, decretadas por Salazar, que afectou sobretudo as camadas com menos recursos.
No Barreiro, os operários e os trabalhadores que se linham manifestado rijamente contra a fome, em Julho 1943, associavam à revolta a consciência democrática e antifascista que exigia o fim do regime de ditadura de Salazar, germanófilo até onde pôde, “aliado” quando as coisas deram para o torto.
Tal como também entortaram no dia 9 de Maio de I945, quando centenas de manifestantes subiram a rua Brás com gritos de regozijo, vitoriando o fim do conflito, levando nas mãos fotografias dos jornais com o soldado soviético a levantar a bandeira da URSS no edifício do “Reichtag”.
Texto In: Barreiro Roteiro das Memorias de Amando Sousa Teixeira