“Em 1967, grande manifestação cultural contra o regime, no Ginásio do Luso. Cantores, declamadores e poetas da resistência. Cantar também é crime para o regime! Que noite inesquecível pela liberdade! Naquele memorável espetáculo, um autêntico concerto, talvez a maior e mais vibrante sessão de poesia e canto que encheu como um ovo o ginásio do Luso do Barreiro, no dia 11 de Novembro de 1967, um sábado, da iniciativa da Comissão Cultural do Luso e do Cineclube do Barreiro – cuja direção, liderada por Álvaro Monteiro, viria, por esse motivo, a ser presa pela PIDE.
Este foi mais um dos momentos em que tomámos nas nossas mãos a procura da liberdade que o poder fascista nos negava. Adriano Correia de Oliveira não cantou porque, como explicou, estava na tropa. Odete Santos declamou poetas como António Gedeão e Manuel da Fonseca. Teresa Paula Brito interpretou Para Não Dizer Que Não Falei De Flores e espirituais negros. O virtuosismo de Carlos Paredes e Fernando Alvim em temas como Verdes Anos.
Por fim, Zeca, acompanhado à viola por Rui Pato. Uma multidão, impensável, naqueles tempos e naquelas condições, repetia com insistência: “Vampiros”, “Vampiros”. O Zeca não queria, resiste até ao limite, mas era impossível não ceder ao pedido incessante da multidão. Foi um momento particularmente emocionante quando Zeca Afonso, perante insistência continuada, a que não resistiu, interpreta, no Barreiro, naquele local, naquele ano, àquela hora e para aquela imensa multidão, aquele libelo acusatório temível e sempre atual. Todas as emoções transbordaram quando, aquela Voz rompeu, como um grito, o momento de silêncio: Estava a viver-se um impressionante e indescritível acontecimento, de grande impacto na região que, num período de crescentes ações políticas contra o regime, empolgou o começo da movimentação dos democratas para o intenso período eleitoral de 1969.”
Texto de Alfredo Matos
Lembrar Zeca No Barreiro
“Foi no Barreiro, ainda em plena ditadura, a 11 de Novembro de 1967, no ginásio da colectividade Luso Futebol Clube, integrado num sarau de música e poesia promovido pelo Cine Clube do Barreiro e pela Comissão Cultural do “Luso” que Zeca Afonso actuou em momentos inesquecíveis, num espaço a abarrotar de gente que culminou no entoar de “Os vampiros” pela assistência, ao rubro, numa das mais emocionadas interpretações daquela mítica canção.
Na sequência desta actuação, iria ser presa pela PIDE a direcção do Cine Clube, então presidida por Álvaro Monteiro.”
texto In: https://www.rostos.pt/inicio2.asp?cronica=9000673
Maria Jorgete Teixeira
Núcleo da Aja Barreiro
Imagem: José Afonso no Barreiro Casa-dos-Corticeiros-1969